Novo programa de biocombustíveis deve impactar o transporte
Foi assinado, em março, o decreto que regulamenta o RenovaBio, nova política nacional de biocombustíveis cujo objetivo é expandir a produção desse tipo de produto no Brasil. A ideia é contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Em 2016, o país ratificou o Acordo de Paris, comprometendo-se a reduzir suas emissões em 37% até 2025, tendo como base os níveis de 2005. No entanto, a forma como o país busca inserir a economia verde na agenda nacional de desenvolvimento ainda desperta dúvidas quanto a aspectos técnicos e econômicos, especialmente para o setor de transporte. De acordo com o MME (Ministério de Minas e Energia), o que se pretende é a implementação de uma política pública que traga previsibilidade ao mercado de biocombustíveis, em coexistência harmônica com os combustíveis fósseis, por meio de um estímulo à constante inovação. Porém, o decreto não traz qual o percentual esperado de aumento na produção. Uma das principais novidades é a criação do CBIO (Crédito de Descarbonização por Biocombustíveis), que valerá para precificar a contribuição individual de cada agente produtor e transformar a troca de combustíveis fósseis por limpos em créditos no mercado de carbono. Os transportadores reconhecem o potencial estratégico do RenovaBio, mas alertam que é imprescindível respeitar os interesses dos consumidores, mitigando possíveis impactos negativos em suas atividades. Já há análises que indicam a possibilidade de aumento dos preços dos combustíveis fósseis com a implementação do programa, o que pode ocasionar consideráveis prejuízos financeiros para os transportadores sobretudo aos caminhoneiros autônomos e, até mesmo, inviabilizar a sua atuação no mercado, informa o presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Clésio Andrade. Em nota explicativa divulgada pelo MME, consta que os impactos ao consumidor serão decorrentes em maior ou menor grau em função da intensidade de carbono pretendida ao final do horizonte temporal da meta a ser imposta. A referida nota relata que os distribuidores de combustíveis deverão comprar CBIOs no mercado financeiro, obrigação que, possivelmente, ocasionará custos adicionais a esses agentes. Assim, acredita-se que o CBIO possa vir a ser um custo operacional das distribuidoras que, por sua vez, poderão aumentar o preço do combustível fóssil na bomba para o consumidor final. O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Antonio Megale, por sua vez, afirma que a indústria automobilística apoia o RenovaBio pela importância de se planejar a matriz energética brasileira e fortalecer os biocombustíveis, mas não deixa claro se o setor está preparado para encampar essa nova agenda. Entendemos que essa é uma medida que está em linha com a tendência de redução das emissões dos gases de efeito estufa e também com o desenvolvimento da nossa indústria de etanol e do biodiesel. O programa O RenovaBio prevê a adoção de instrumentos para precificação levando em consideração a relação de eficiência e das emissões, além de mecanismos que valorizam a produção sustentável. O programa desenvolverá ainda meios para impulsionar o potencial do Brasil na produção comercial de bioquerosene de aviação e a produção competitiva de etanol celulósico; assim como acelerar o aproveitamento racional do biogás e do biometano. Também institui formas de incentivos à inserção comercial dos novos biocombustíveis, priorizados pela análise de ciclo de vida e suas relações entre eficiência e emissões. Para tal, serão fixadas metas nacionais de redução de emissões, definidas para um período de dez anos. Elas serão desdobradas em metas individuais e anuais, compulsórias para todos os distribuidores, conforme a participação no mercado. Também haverá certificação da produção com notas diferentes para cada produtor, inversamente proporcional à intensidade de carbono do biocombustível produzido. Os produtores passarão a ser certificados por firmas inspetoras credenciadas pelo MME. Setor aéreo Ainda na avaliação do setor de transporte, a política em discussão deve considerar as particularidades de cada modal a fim de não penalizar segmentos sem estrutura nacional consolidada para o uso de biocombustíveis, como o transporte aéreo. Para esse caso específico, é fundamental desenvolver uma Política Nacional de Bioquerosene de Aviação, levando-se em consideração as obrigações internacionais estabelecidas em relação à redução da emissão de gases e poluentes atmosféricos. Nesse sentido, o presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, explica que, como parte dos esforços para viabilizar o bioquerosene, a aviação comercial acompanha o desenvolvimento do RenovaBio. O setor propõe ajustes no programa que garantam as atuais bases de custo da indústria aérea e criem instrumentos para fomentar a consolidação de bioquerosene de aviação em todo o território nacional, diz. Segundo ele, o Brasil comercializa atualmente 7 bilhões de litros de querosene de aviação de origem fóssil por ano, dos quais 25% são importados. A partir da constatação de que o resultado financeiro das aéreas apresenta uma margem extremamente pequena e que os gastos com combustível significam em média 26% da matriz de custos dos operadores (2016), conclui-se naturalmente que não há como absorver novos aumentos de preço. Fonte: Agência CNT
- Data: 11/04/2018
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